O Estado de São Paulo: editorial - Investimentos muito limitados

 

Investimentos muito limitados

 

O aumento da taxa de investimentos deveu-se apenas a dois segmentos da economia, e o setor público investe cada vez menos; o quadro só mudará com crescimento vigoroso

 

O salto da taxa de investimentos no Brasil entre 2015 e 2021, de 15,52% para 19,17% do Produto Interno Bruto (PIB), com aumento de quase 3,7 pontos porcentuais, traz expectativas animadoras. Aferido pelo Centro de Estudos de Mercados de Capitais (Cemec) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base em dados do IBGE e estimativas próprias, esse avanço pode sugerir que a economia brasileira recuperou sua capacidade de investir.

 

Desse modo, o Brasil teria conseguido reduzir sua distância em relação aos países em desenvolvimento que cresceram em ritmo intenso nas últimas décadas e, assim, readquirido sua própria capacidade de voltar a crescer com maior velocidade.

 

Embora auspiciosos, os dados precisam ser examinados com cuidado, como faz o Cemec, e estão longe de projetar crescimento rápido e sustentado nos próximos anos. Problemas recentes e históricas restrições estruturais ao aumento dos investimentos do setor público ainda desafiam o País e, se não enfrentados, manterão a economia em ritmo exasperantemente lento, com o que velhos problemas sociais persistirão, se não ficarem mais graves.

 

Mesmo eliminados os registros de exportações fictícias de plataformas de petróleo, a evolução da taxa de investimentos é expressiva. Entre 2019 e 2021, ela passou de 16,2% para 18,2% do PIB, uma evolução de 2 pontos porcentuais num período marcado pela pandemia da covid-19.

 

Mas, em boa medida, o aumento se deveu a uns poucos segmentos da economia. Ele foi puxado, em primeiro lugar, por máquinas e equipamentos, mas, desses itens, os que mais cresceram foram os voltados para o setor agrícola. O segundo fator foi a construção civil. Outros setores tiveram papel pouco expressivo nos investimentos nos últimos anos.

 

A eficiência da agropecuária tem sido demonstrada há décadas. Seus ganhos de produtividade e a expansão notável de sua produção, bem como seu papel na geração de superávits excepcionais da balança comercial, o destacam dos demais setores. É o campo que, num período de estagnação ou baixo crescimento, tem evitado resultados econômicos ainda mais decepcionantes. É preciso observar, no entanto, que o aumento recente de sua demanda por bens de capital tem muito a ver com a boa cotação internacional. Surgem indicações fortes de que o bom momento do mercado mundial para os produtos agrícolas pode estar passando.

 

No caso da construção, o grande estímulo nos últimos tempos foi a oferta abundante de crédito a custos historicamente baixos. Desde meados do ano passado, porém, os juros básicos vêm sendo elevados pelo Banco Central para conter a inflação, que já passa de 12% em 12 meses. O aumento do custo dos empréstimos imobiliários, a maior cautela das instituições financeiras em razão da evolução da inadimplência e a corrosão da renda real pela inflação podem reduzir os negócios no setor.

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