Os principais indicadores da situação financeira das empresas abertas no ano terminado no segundo trimestre de 2022 são favoráveis e até melhores que no período pré-pandemia, não obstante tenham enfrentado desde 2020 um cenário especialmente desafiador para sua gestão financeira. O objetivo desta Nota é identificar alguns dos fatores econômicos e financeiros que ajudam a explicar esses resultados e levantar algumas hipóteses quanto à sua permanência levando em conta as incertezas quanto ao cenário macroeconômico para os próximos trimestres.
A análise dos números da situação financeira das empresas abertas[1]no ano terminado em junho de 2022 indica alguma elevação do indicador de dívida liquida em relação à geração de caixa e redução dos índices de cobertura de despesas financeiras, que entretanto ainda se mantem em níveis favoráveis em relação ao período anterior à pandemia e ao padrão histórico observado desde 2010.
A obtenção desses resultados, apesar da crise da pandemia e dos choques de preços e de juros, resulta principalmente de dois conjuntos de fatores. Do lado dos resultados operacionais c consolidados, observa-se nos últimos dois anos o aumento do coeficiente de geração de caixa em relação às vendas, como resultado do aumento das margens brutas. Do lado financeiro, as empresas promoveram forte acumulação caixa em relação às vendas, atingindo em 2020 níveis muito superiores à média histórica, ação favorecida pelo aumento de liquidez e redução de taxas de juros promovidas pelo BCB visando mitigar os efeitos da crise, além do aumento das emissões primarias de ações. O uso desse excedente de caixa permitiu reduzir nos períodos seguintes a necessidade de novas operações de dívida, com taxas de juros mais elevadas. Verifica-se também grande agilidade das empresas no ajustamento da composição de sua captação liquida de financiamentos por fontes de recursos obtidos no mercado de dívida corporativa, crédito bancário e recursos externos.
Nos próximos trimestres os impactos da política monetária restritiva e redução do crescimento ou mesmo expectativas de recessão nas maiores economias mundiais podem comprometer os fatores que sustentaram a elevação das margens até fins de 2021 manter a tendencia de queda já observada nos dois primeiros trimestres de 2022 A manutenção de taxas reais de juros elevadas nos próximos trimestres deve aumentar as despesas financeiras, lembrando ainda que a redução do excedente de disponibilidades para seu padrão normal reforçará a necessidade de novas operações de financiamento com custos mais elevados.
[1] Exceto Petrobras, Eletrobras e Vale