Valor Econômico: Famílias voltam a poupar mais no 4º trimestre

Famílias voltam a poupar mais no 4º trimestre

 

Piora da pandemia pesou na reversão da tendência

 

A despeito do impacto da queda da renda nos saldos das cadernetas, o total da poupança financeira das famílias avançou no quarto trimestre de 2021, revertendo a tendência observada no período anterior. O valor, que tinha caído de R$ 118,5 bilhões no segundo trimestre para R$ 44,5 bilhões no terceiro trimestre, aumentou para R$ 73,7 bilhões no quarto trimestre, segundo levantamento inédito do Centro de Estudos de Mercados de Capitais (Cemec) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

 

No terceiro trimestre de 2021, o recuo da renda real, devido à forte aceleração da inflação, foi uma das influências para a redução da poupança financeira das famílias no terceiro trimestre. Com preços mais altos de itens básicos e outros que não podem ficar de fora do orçamento das famílias, houve queda nos depósitos, ou seja, muitos recorreram a saques para honrar compromissos, segundo o coordenador do Cemec-Fipe, Carlos Antonio Rocca.

 

No fim de 2021, no entanto, apesar do efeito continuar presente, especialmente para as famílias de renda mais baixa, ele afirma que outros três fatores devem ter pesado mais e provocaram uma reversão na tendência do indicador. O primeiro é o chamado efeito precaucional, ou seja, algum aumento de poupança financeira por famílias em melhores condições por cautela com as notícias de ômicron fora do país. Outro é a migração da poupança em ativos reais, especialmente imóveis, para poupança financeira, com o aumento dos custos de construção e de financiamento imobiliário. Além disso, há também o retorno de poupança de brasileiros no exterior para o mercado doméstico.

 

“Para o pessoal de renda mais baixa, a questão da renda continua a ser uma realidade e afeta o depósito das poupanças, mas esses outros fatores parecem ter sido mais importantes para explicar o movimento da poupança das famílias como um todo no fim de 2021”, diz ele.

 

Para ter uma ideia, os depósitos de poupança (nas cadernetas) recuaram R$ 11,7 bilhões no quarto trimestre de 2021, enquanto a poupança financeira como um todo - que inclui fundos de investimentos, ações, dívida pública e títulos corporativos, entre outros - teve fluxo de R$ 73,72 bilhões.

 

Já o fluxo de investimentos em carteira de brasileiros no exterior ficou negativo em R$ 20,6 bilhões e o valor de novos imóveis financiados, uma parcela dos vendidos, chegou a R$ 16,4 bilhões em agosto de 2021 e caiu para R$ 11,6 bilhões em dezembro.

 

“Tudo indica o impacto do chamado efeito precaucional, a questão dos imóveis e da poupança externa. Se você olhar o quarto trimestre, teve uma repatriação da ordem de R$ 20 bilhões de investimentos de brasileiros no exterior. Parece que essas três hipóteses são suficientes para explicar esse movimento”, aponta.

 

Para o início de 2022, no entanto, Rocca acredita que voltará a ocorrer uma correlação maior da evolução da poupança com o panorama da pandemia, ou seja, as notícias de maior controle da situação sanitária tendem a levar à redução da poupança financeira das famílias, devido ao menor isolamento social.

 

“Nos últimos anos, a pandemia é o que mais afeta a poupança financeira. Apesar do número grande de casos de covid-19, a gravidade é menor. O que parecendo mais provável é que tenhamos aí pela frente uma continuidade do fluxo de queda da poupança financeira das famílias, que ajude a complementar algumas decisões de consumo daqui por diante, seja de bens ou de serviços”.

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